quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

O FILME “CLUBE DA LUTA” E O MASSACRE NO MORUMBI SHOPPING

 

    Pôster do filme "Clube da Luta"


            É de se perguntar como podem ficar entrelaçadas coisas tão distintas num cenário macabro.


            “Fight Club” ou “Clube da Luta” no Brasil é um filme estadunidense de 1.999 dirigido por David Fincher. É baseado no romance homônimo de Chuck Palahniuk, publicado em 1.996. O filme é protagonizado por Brad Pitt, Edward Norton e Helena Bonham Carter. Norton representa o protagonista anônimo, um "homem comum" que está descontente com o seu trabalho de classe média na sociedade americana. Ele forma um "clube de combate" com o vendedor de sabonetes Tyler Durden, representado por Brad Pitt, e se envolve com uma mulher dissoluta, Marla Singer, representada por Helena Bonham Carter. Os direitos do romance de Palahniuk foram adquiridos pela produtora da 20th Century Fox Laura Ziskin, que contratou Jim Uhls para escrever a adaptação do filme. Fincher foi um de quatro diretores considerados; foi eventualmente contratado devido ao seu entusiasmo pelo filme. Fincher desenvolveu o roteiro com Uhls e procurou conselhos de escrita do elenco de outros na indústria cinematográfica. O diretor e o elenco o compararam aos filmes "Rebel Without a Cause" e "The Graduate". A intenção de Fincher com a violência de “Fight Club” foi a de servir como metáfora ao conflito entre uma geração de pessoas jovens e o sistema de valores da publicidade. O realizador copiou o tom homoerótico do romance de Palahniuk para manter a audiência desconfortável e desviar a atenção da surpresa do final do enredo. Executivos do estúdio de cinema não gostaram do filme, e reestruturaram a campanha de marketing intencionada por Fincher para reduzir as perdas antecipadas. “Fight Club” não atingiu as expectativas do estúdio nas bilheteiras, e recebeu reações polarizadas dos críticos, que elogiaram suas atuações, direção, temas e ambiguidade moral, mas criticaram sua violência. O jornal The Guardian viu-o como um prenúncio de mudança da vida política americana, e descreveu o seu estilo visual como inovador. O filme tornou-se mais tarde um sucesso comercial com o lançamento do DVD, que estabeleceu “Fight Club” como um filme cult e é considerado um dos maiores e mais influentes filmes de todos os tempos. Em 2.013, Chuck Palahniuk anunciou, durante a edição da ComicCon de São Diego, uma continuação em graphic novel de seu romance, a continuação em graphic novel, foi lançada em maio de 2.015, intitulada ‘Fight Club 2’. Contudo, até o momento, não há nenhum rumor acerca de uma versão cinematográfica.


            O narrador (Edward Norton) é um empregado de uma companhia de seguros, e sofre de insônia. O médico recusa-se a dar-lhe medicação e aconselha-o a visitar um grupo de apoio para testemunhar sofrimentos mais graves. O narrador assiste às sessões de um grupo de apoio para vítimas de cancro testicular e, fazendo-se passar por vítima de cancro, encontra uma libertação emocional que alivia a sua insônia. Ele torna-se viciado em ir a grupos de apoio e em fingir ser uma vítima, mas a presença de outro impostor, Marla Singer (Helena Bonham Carter), perturba-o, e então ele negocia com ela para evitar o encontro com os mesmos grupos. Depois de voar para casa após uma viagem de negócios, o narrador encontra o seu apartamento destruído por uma explosão. Ele liga a Tyler Durden (Brad Pitt), um vendedor de sabão que conheceu no voo, e eles encontram-se num bar. Uma conversa sobre consumismo acaba com Tyler a convidar o narrador para ficar em sua casa e, depois disso, ele pede ao narrador para lhe dar um soco. Os dois envolvem-se numa luta fora do bar, com o narrador, posteriormente, a mudar-se para a casa em ruínas de Tyler. Eles têm outras lutas fora do bar, e estas atraem uma multidão de homens. Os combates mudam-se para a cave do bar, onde os homens formam um clube de combate. Marla tem uma overdose de pílulas e telefona ao narrador para ele a ajudar. E ele ignora-a, mas Tyler responde à chamada e salva-a. Tyler e Marla envolvem-se sexualmente, e Tyler avisa para o narrador nunca falar com Marla sobre ele. Mais clubes da luta formam-se em todo o país, e eles tornam-se numa organização antimaterialista e anticapitalista denominada "Project Mayhem", sob a liderança de Tyler. O narrador queixa-se a Tyler querendo estar mais envolvido na organização, mas Tyler desaparece repentinamente. Quando um membro do Project Mayhem morre, o narrador tenta encerrar o projeto, e segue pistas das viagens pelo país que Tyler fez para localizá-lo. Numa cidade, um membro do projeto cumprimenta o narrador como Tyler Durden. O narrador chama Marla do seu quarto de hotel e descobre que Marla também acha que ele é Tyler. De repente, ele vê Tyler Durden em seu quarto, e Tyler explica que eles são personalidades dissociadas dentro do mesmo corpo. Tyler controla o corpo do narrador quando o narrador está a dormir. O narrador desmaia depois da conversa. Quando acorda, descobre pelos registos do seu telefone que Tyler fez chamadas enquanto ele estava "desmaiado". Ele descobre os planos de Tyler para apagar a dívida com a destruição de edifícios que contêm registos de empresas de cartão de crédito. O narrador tenta entrar em contato com a polícia, mas descobre que os polícias fazem parte do projeto. Ele tenta desarmar os explosivos em um dos prédios, mas Tyler subjuga-o e muda-se para um prédio seguro para assistir à destruição. O narrador, mantido por Tyler sob a mira de uma arma, percebe que uma vez que partilha o mesmo corpo com Tyler, ele é que está na verdade a segurar a arma. Ele dispara para dentro da sua boca, acertando através do rosto, sem se matar. Tyler cai com um ferimento de saída para a parte traseira de sua cabeça, e o narrador deixa de o projetar mentalmente. Depois disso, os membros do Project Mayhem trazem a Marla que entretanto tinha sido raptada a ele, acreditando ser ele Tyler, e deixam-nos sozinhos. Os explosivos detonam, desmoronando os edifícios, e o narrador e Marla assistem à cena, de mãos dadas.

Morumbi Shopping - São Paulo/SP - Brasil


            No Brasil, Contudo, o filme passou a ser relacionado diretamente com um dos mais tristes episódios da história brasileira. O Massacre no Morumbi Shopping foi um assassinato em massa, ocorrido em 3 de novembro de 1.999, dentro de uma sala de cinema no shopping Morumbi, em São Paulo, Brasil. O autor, Mateus da Costa Meira, então estudante de medicina de 24 anos, matou 3 pessoas que estavam na sala e feriu outras 4. Além do tiroteio, uma das paredes da sala e um espelho do banheiro foram danificados por balas, foi inicialmente condenado a 120 anos de prisão, um mandato que foi reduzido posteriormente para 48 anos. Depois que ele tentou matar outro preso, foi determinado em 2.011 que ele tinha que ser transferido para um hospital psiquiátrico, onde permanece até hoje. Ele é conhecido no Brasil como "atirador de shopping centers" ou "atirador de cinema". O filme em  cartaz era justamente o “Clube da Luta”. A tela na qual o disparo ocorreu foi permanentemente fechada. O cinema fechou suas três telas restantes em 2.012, liberando espaço para novas lojas no shopping.


            Em novembro de 1.999, Mateus da Costa Meira (nascido em 04 de abril de 1.975) vivia sozinho em um apartamento em São Paulo e estudou medicina na Faculdade de Ciências Médicas da de São Paulo Santa Casa (FCMSCSP), uma instituição de bem-visto; ele estava no sexto e no ano passado, a apenas 15 dias da formatura. Sua família rica (incluindo seu pai, um médico) morava em Salvador, sua cidade natal e Mateus recebia regularmente dinheiro de seus pais para viver uma vida confortável. Ele jogou videogames "violentos" (principalmente o Duke Nukem 3D) e possuía uma vasta coleção de softwares copiados ilegalmente. Ele era conhecido por enviar vírus e pornografia a usuários do provedor de internet Magiclink em Salvador desde janeiro de 1997. Mateus  foi descrito como tímido, introvertido e apático e teve um fraco desempenho acadêmico. Ele tem transtorno de personalidade esquizóide. Depois de se recusar a fazer um trabalho obrigatório na faculdade de medicina, ele foi enviado para a divisão de psicologia da instituição. Por outras fontes, no entanto, ele foi descrito como uma pessoa gentia e calma que mudou de personalidade meses antes do ataque e começou a pular aulas e se aproximar dos traficantes de drogas. Antes do massacre, ele já possuía uma pistola, mas optou por obter uma arma mais poderosa: uma submetralhadora MAC-11, que ele adquiriu ilegalmente de Marcos Paulo Almeida dos Santos por R $ 5.000. Meira disse que contratou Santos como motorista, pois não sabia dirigir o carro mecânico que sua companhia de seguros lhe deu após um acidente que destruiu seu Chrysler Neon automático. A polícia o investigou por dois crimes adicionais: posse de drogas e falsificação de CDs. Em seu apartamento, eles encontraram equipamentos para pirataria de CDs, cocaína, crack e munição. Meira disse à polícia que ele planejava o ataque por sete anos e que escolheu o “Fight Club” porque o personagem principal sofre de esquizofrenia.



            Segundo testemunhas oculares da ação, na noite de 3 de novembro de 1.999, dentro da sala 5 do cinema do Morumbi Shopping, Zona Sul da capital paulista, Mateus, à época com 24 anos, começou a assistir ao filme na primeira fila. Ele teria então levantado de seu lugar, ido ao banheiro – onde tira a arma da bolsa e resolve testá-la atirando no espelho, aparentemente contra a própria imagem, com sua submetralhadora americana Cobray M-11 – e depois voltado à sala de projeção e ficado de frente para a plateia. Junto à tela do cinema, saca a arma novamente atira para o alto. Quem está na primeira fila vê a tempo que se trata de tiros reais e se abaixa, enquanto os demais acreditavam que os tiros viessem da tela. A sala permanece escura. A fotógrafa Fabiana Lobão Freitas, 25 anos, morre na hora. O economista Júlio Maurício Zeimaitis, 29, chega ao hospital com vida, mas não resiste. A publicitária Hermé Luísa Jatobá Vadasz, 46, também não resiste aos ferimentos na cabeça. Os cinco feridos por balas ou estilhaços ficaram fora de perigo. Dessa tragédia, resultaram três mortes, quatro pessoas feridas e mais quinze em pânico. Os tiros duraram cerca de três minutos. Tal tragédia rendeu a Mateus o apelido que carrega até hoje. O filme exibido no momento dos disparos era o “Clube da Luta” (1.999).


Mateus da Costa Meira


            Preso em flagrante, acabou condenado a mais de 120 anos e seis meses de prisão em regime fechado. Seus advogados alegaram que Mateus era semi-imputável, ou seja, possuía consciência parcial de seus atos. A sua defesa tentou mostrar que ele sofria de alucinações, ouvia vozes misteriosas, tinha crises de agressividade, além de um comportamento estranho e solitário. Depois de várias apelações judiciais, Mateus foi condenado aos formais trinta anos máximos previstos pela Justiça brasileira. Os advogados de defesa tentaram, em vão, alegar insanidade mental de seu cliente e argumentar que Mateus havia sido influenciado pelo jogo Duke Nukem 3D, no qual há uma cena de tiroteio dentro de um cinema, na primeira missão ("Hollywood Holocaust") do primeiro episódio ("L.A. Meltdown"). Em 2.007, os magistrados reduziram a pena para 48 anos e 9 meses. Mateus ficou preso no Centro de Observação Criminológica (COC) do Complexo do Carandiru, em São Paulo, até o presídio ser desativado, em 2.002. Posteriormente, foi transferido para a Penitenciária 2 de Tremembé (SP) e, depois, em 2.009, para a Penitenciária Lemos Brito, em Salvador (BA), onde nasceu e mora parte da família.


            No dia 8 de maio de 2.009, Mateus tentou matar seu colega de cela, o espanhol Francisco Vidal Lopes, de 68 anos, com uma tesoura, na Penitenciária Lemos Brito na cidade de Salvador e foi autuado por tentativa de homicídio, aparentemente porque o homem ouvia a televisão em volume muito alto. Em 2.011, a Justiça da Bahia, por meio do júri popular, o absolveu da acusação de tentativa de homicídio contra o colega de prisão. Foi considerada a tese, defendida até pela promotora do caso, Armênia Cristina Santos, de que o ex-estudante era é inimputável por sofrer de doenças mentais atestadas por laudos médicos. Com tal decisão, Mateus foi encaminhado para o Hospital de Custódia e Tratamento (HCT) de Salvador, onde permanece até hoje.




José Carlos de Paula (Autor do Blog)