terça-feira, 22 de novembro de 2011

LITTLE BIGHORN

                                 
Acima: Cavalo Louco e Touro Sentado. Abaixo: General Custer.


Assim como na colonização espanhola e portuguesa na América Latina, o colonialismo da coroa britânica trouxe irreparáveis danos à civilização e à cultura nativas, que prosseguiram mesmo após a independência norte-americana.

Nos Estados Unidos da América o confronto entre brancos e índios pele-vermelhas sempre foram uma constante, dando ensejo ao período conhecido como as “Guerras Indígenas nos Estados Unidos”, inobstante, a rigor, inexistisse propriamente uma guerra declarada, mesmo porque se tratavam de disputas internas de território.

Hoje em dia pouco se fala sobre o assunto, mas, devido especialmente ao cinema, os indígenas norte-americanos foram sempre apresentados como selvagens bestiais, que matavam sem piedade os brancos, inclusive com a prática ritual de colher e colecionar escalpos, que é como os índios pele-vermelhas denominavam o couro cabeludo arrancado ainda com os cabelos. Em geral o topo do crânio das vítimas (com a porção de cabelo que o cobria) era arrancado a golpes, geralmente de machadinhas, e guardado ou exibido como troféu de guerra. 

Foi neste contexto de disputas territoriais entre brancos e índios que inúmeras batalhas ocorreram, com requintes de crueldade de lado a lado.

Todavia, a cavalaria norte-americana, via de regra apresentada como sendo composta pelos bons “mocinhos” nos filmes de cowboy, também perpetrava crueldades inimagináveis.

O que poucos sabem (ou preferem comentar) é que havia atrocidades também por parte da cavalaria dos Estados Unidos. Seu mais famoso comandante, o General Custer, tinha por hábito, juntamente com seus comandados, de atacar acampamentos indígenas quando os guerreiros estavam ausentes e então assassinarem fria e covardemente suas mulheres e crianças, o que vem a ser confirmado em filmagens mais recentes, como “Pequeno Grande Homem”, (“Little Big Man”) estrelado por Dustin Hoffman, e que trata sobre a famosa batalha de “Little BigHorn”.

Também encontramos essa batalha no filme “Bury My Heart at Wounded Knee” (“Enterrem Meu Coração na Curva do Rio”, no Brasil), dirigido por Yves Simoneau e escrito por Daniel Giat e Dee Brown, com Anna Paquin (True Blood”).

George Armstrong Custer, conhecido como General Custer, nasceu em New Rumley, Ohio, aos 05 de dezembro de 1.839. Morreu aos 25 de junho de 1.876, no Rio Little Bighorn, em Montana.

Na Guerra da Secessão, Custer destacou-se como um agressivo oficial de cavalaria da União, alcançando o posto temporário (“brevet”) de general de brigada de voluntários com apenas 25 anos de idade, tendo papel de destaque em várias batalhas, como em Gettysburg, o maior combate daquela guerra.

Após a guerra civil, retornou ao seu posto permanente de capitão do exército regular no Quinto Regimento de Cavalaria. Em 1.866, foi nomeado tenente-coronel, sua patente final, lotado no recém-formado Sétimo Regimento de Cavalaria, onde passaria a tomar parte nas “Guerras Índias”.

É importante destacar-se aqui que as populações indígenas norte-americanas enfrentavam rotineiros conflitos entre si. Dessa forma, a divisão do povo indígena sempre foi um fator que auxiliou em muito as vitórias das forças militares norte-americanas. 

Entretanto, dois grandes líderes indígenas conseguiram reunir grupos rivais de índios numa coalização integrada em sua maior parte por Cheyennes e Sioux: Touro Sentado[1] e Cavalo Louco[2].

No dia 25 de junho de 1.876, Custer conduziu o Sétimo Regimento de Cavalaria num ataque contra o grupo indígena, possivelmente subestimando sua real capacidade de combate.
Comandando cerca de seiscentos homens, Custer dividiu suas tropas em quatro colunas. Uma, comandada por ele e as outras, comandadas pelo major Reno, pelo capitão Benteen e pelo capitão McDougal.

Porém, além de a aldeia ser enorme, com cerca de 10.000 índios, com 3.000 ou 4.000 guerreiros preparados em sua defesa, seus comandados, principalmente Reno e Benteen, desobedeceram suas ordens e o abandonaram cercado com cerca de 210 homens.
A batalha foi o mais famoso incidente das chamadas “Guerras Indígenas” e resultou na vitória dos Lakotas, Sioux e Cheyennes do Norte, que aniquilaram um destacamento da cavalaria estadunidense comandado pelo general Custer. Foi a maior derrota do exército norte-americano durante aquelas guerras.

Reza a lenda que, antes de matarem o General Custer, os índios que o aprisionaram furaram-lhe os olhos e os tímpanos, e ainda cortaram sua língua, para que seu espírito reencarnasse cego, surdo e mudo, como forma de expiar as maldades que cometera contra os povos indígenas.

Cavalo Louco empreenderia a maior batalha contra a cavalaria norte-americana em 08 de janeiro de 1.877, em Wolf Montain, Montana. Em 05 de maio de 1.877, com seu povo cansado e faminto, ele se rendeu às tropas do General Crook em Nebraska.

Perseguido pelo exército dos Estados Unidos, Touro Sentado levou os seus homens até ao Canadá, onde permaneceram até 1.881. Neste ano regressou com a sua tribo aos Estados Unidos para que a sua gente se entregasse e acabasse assim a guerra. Touro Sentado não conseguiu uma porção de terras canadenses, porque a Rainha Vitória o considerava um selvagem dos Estados Unidos.

Nos anos seguintes Touro Sentado fez parte do show de Buffalo Bill.

Touro Sentado sentiu-se atraído pela “Dança dos Fantasmas”, religião fundada pelo suposto messias Wovoca. Segundo o profeta, que se dizia o próprio Cristo, a dança faria com que no próximo ano a terra engolisse os homens brancos das terras dos índios. O governo dos Estados Unidos viu nestas danças uma ameaça e enviou uma polícia índia para prender o chefe hunkpapa. Touro Sentado e seu filho morreram baleados na luta que se seguiu à tentativa de prisão.

A música anexa, no idioma lakota, talvez possa ajudá-lo a entrar no clima daquele momento histórico tão violento e místico.


[1] O nome “Touro Sentado” (em inglês “Sitting Bull”) é um grande equívoco ortográfico, já que os indígenas norte-americanos desconheciam o gado bovino, introduzido pelos europeus. O nome correto, na língua lakota é “Tatanka Yotanka”, cujo significado literal é “Búfalo Macho Sentado”. Foi um chefe indígena dos Sioux Hunkpapa e viveu entre os anos de 1.834 e 1.890.

[2] “Cavalo Louco” (em inglês “Crazy Horse”) provém do nome “Ta-sunko-witko”, em língua lakota.