O Caso
Evandro
O Caso
Evandro refere-se ao sequestro e assassinato do garoto Evandro Ramos
Caetano, em 1992, na cidade litorânea de Guaratuba, Estado do Paraná, no
Brasil.
Evandro
Ramos Caetano, que em 1992 tinha 6 anos, desapareceu em 6 de abril daquele ano.
Seu suposto corpo foi encontrado em 11 de abril, num matagal da cidade, sem
vários órgãos, com mãos e pés amputados, e vísceras e coração arrancadas.
O
assunto gerou grande repercussão e comoção na imprensa brasileira (ver abaixo).
A
promotoria pública do Paraná acusou Beatriz Cordeiro Abagge e sua mãe, Celina
Abagge, como mentoras do sequestro e morte de Evandro com o intuito de utilizar
o corpo em um ritual de magia negra.
Em
23 de março de 1998, Beatriz e Celina foram julgadas, pela primeira vez, no
mais longo júri da história da justiça brasileira (34 dias de julgamento) e
consideradas inocentes. Em 1999 o júri foi anulado, sendo retomado o julgamento
em maio de 2011.
Outros
envolvidos no assassinato, também foram julgados pelo crime, como o pai de
santo Osvaldo Marcineiro, o pintor Vicente Paulo Ferreira e o artesão Davi dos
Santos Soares foram condenados em 2004. Já Francisco Sérgio Cristofolini e
Airton Bardelli dos Santos foram absolvidos em 2005.
Na
tarde de 28 de maio de 2011, Beatriz foi condenada a 21 anos e 4 meses de
prisão (em votação apertada: 4 x 3), 13 anos depois do primeiro julgamento. Em
17 de abril de 2016, o Tribunal de Justiça do Paraná concedeu perdão de pena
para Beatriz Abagge.
Má Condução da Investigação – Abuso de Poder e Autoridade,
Sevícias e Torturas
A
revista ISTOÉ trouxe, na edição nº 2.163 de 27/04/2.011 informações que
comprometem a seriedade das investigações e lançam dúvidas até mesmo quanto à
identidade do corpo encontrado.
Informa
a revista que as confissões foram obtidas de forma ilícita, sob tortura e por policiais
que não tinham autoridade nenhuma para investigar o caso, pois, agindo a mando
da promotoria local, a Polícia Militar havia torturado brutalmente os suspeitos
para obter a confissão desejada.
Anunciada
a localização do corpo de Evandro, ou do suposto corpo como se verá mais
adiante, a polícia civil começou a investigar e a enfrentar obstáculos – um
deles é que durante dois meses os laudos do IML e da perícia não lhe foram
fornecidos, embora estivessem concluídos. Vai entrar em cena, nesse momento e
sem competência legal para cuidar do homicídio, o então grupo de elite da
Polícia Militar do Paraná.
Por
meio de depoimentos de policiais e ex-policiais que atuaram no caso, dados com
exclusividade à ISTOÉ, hoje se comprova que alguns integrantes desse grupo da
PM agiram como agiam os seviciadores da ditadura, à época recém-encerrada no
Brasil. “Houve tortura. Pessoas das quais os policiais militares suspeitavam
foram sequestradas, levadas sem mandado de prisão e torturadas”, diz o delegado
e diretor do Departamento de Crimes contra o Patrimônio, Luiz Carlos Oliveira,
um dos homens mais prestigiados da polícia no Paraná. Ele fala com a autoridade
de quem investigava o desaparecimento de Leandro e cruzou com as investigações
sobre a morte de Evandro. “Beatriz e Celina foram seviciadas até dizerem que
mataram Evandro. Outro acusado, o pai de santo Osvaldo Marcineiro, não tinha
mais costas de tanto levar porrada. As costas dele ficaram negras. Era um
hematoma só. Eu vi.”
Os policiais prenderam e transportaram
em carros “chapas frias” Celina e Beatriz, achando que Beatriz era Sheila.
Enquanto isso, Osvaldo Marcineiro e mais dois suspeitos já amargavam torturas
na casa de veraneio em Guaratuba do ex-ditador do Paraguai Alfredo Stroessner,
localizada e fotografada por ISTOÉ. Tanto em Curitiba quanto em Guaratuba, a
questão de ter havido tortura é ponto pacífico. “O Ministério Público quer
condenar a ré para jogar uma cortina de fumaça nas atrocidades cometidas”, diz
o advogado Adel El Tasse.
Beatriz foi violada sexualmente por
cinco torturadores, tomou choques elétricos e padeceu de sessões de
“afogamento” numa chácara – eis a explicação do motivo pelo qual ela não
conseguiria durante anos lavar o rosto normalmente. “Desmaiei não sei quantas
vezes durante a tortura, sangrei, urinei, evacuei. Foi estupro, choque e
afogamento”, diz ela. E os torturadores só souberam que Beatriz era Beatriz, e
não Sheila, quando levaram um ensanguentado Osvaldo Marcineiro à sua presença e
ele a chamou pelo nome. Na mesma chácara, em outro quarto, Celina também era
seviciada. Quando Beatriz não suportou mais o suplício, foi carregada para
diante da mãe e implorou: “Diga tudo o que eles quiserem porque eu não aguento
mais choque, não aguento mais estupros e afogamentos.” “Ela me suplicou para
que eu falasse em um gravador tudo aquilo que os torturadores me ditavam”, diz
Celina.
Em fita cassete que compõe o processo,
ouvem-se vozes ao fundo e há o constante ruído de ligar e desligar o aparelho.
Mais: as respostas de Celina demonstram que alguém corrigia o que ela falava:
“Com o que você matou?”, pergunta o torturador. “Com uma paulada”, responde
Celina – e o gravador é desligado. Ligado novamente, ela corrige: “Com uma
faca.” Desliga. Liga. Ela diz: “Não, com uma serra.” Ruído, e vem a
complementação: “Serra da serraria.” “Uma investigação que começa errada só
pode terminar errada”, diz o ex-policial e advogado João Ricardo Keppes de
Noronha, que à época mandou apurar o que ocorrera. Dos “porões” da repressão em
Guaratuba elas foram transportadas para diversos postos da Polícia Militar e
finalmente à penitenciária de Piraquara – aquela onde soldavam o basculante
para as “bruxas” não fugirem. Ao desembarcarem nela, cada uma das mulheres
ficou trancafiada um mês em “solitárias”, nuas, sem direito a banho, sem um
segundo de sol e privadas de alimentação adequada. Beatriz já começava a
gargalhar sozinha a gargalhada das loucas, quando uma aranha a devolveu à
sanidade.
De fato, conforme se observa do trecho
da transcrição do depoimento publicado à época pela revista VEJA de 15/07/1992,
fica evidente que a depoente está sob forte pressão no momento da gravação (ver
abaixo).
O corpo
Sepultado Não é de Evandro
O coronel da reserva Valdir Copetti
Neves rompeu o seu silêncio de 19 anos e declarou: “Por que perguntar de
tortura e circunstâncias de prisão somente para mim? Por que não se pergunta
também ao Ministério Público e à Polícia Federal que estavam na investigação?”
Não bastasse a forma ilegal e truculenta de investigação, vários depoimentos de
autoridades de Curitiba e de pessoas do povo de Guaratuba dão conta de que o
corpo que está sepultado, no terceiro túmulo para quem pisa o Cemitério Central
através de sua porta principal, muito provavelmente não é o de Evandro Caetano.
O Ministério Público admitiu que não tinha fato novo para o julgamento e acabou
alimentando a tese de que Evandro não está ali enterrado: em 19 anos, por 18
vezes se pronunciou contrário à exumação, atitude que não tomaria se tivesse
certeza de que se trata dos restos mortais do menino.
O túmulo é uma capela de tijolinhos
com gavetas à sua esquerda. “Em qual delas está o Evandro?”, pergunta-se ao
zelador do cemitério, Luiz Ferreira. De óculos escuros, fumando e negando-se
terminantemente a ser fotografado, ele dispara: “Em qual gaveta? Se é que ele
está aí. Quem disse que ele está aí?” O garçom Wilson Henttralt, 56 anos, que
vive em Guaratuba e desde criança é vizinho da família de Evandro, também
levanta dúvidas em relação ao fato de ser mesmo dele o corpo que a polícia
atestou que era. “Esse crime paralisou a cidade e ainda hoje só se fala sobre
ele. Houve muita confusão, acho que ninguém sabe ao certo se o corpo encontrado
é o do garotinho”, diz Henttralt. “Certeza absoluta de que não é o corpo” quem
tem é o delegado Oliveira: “Não é o cadáver de Evandro. Durante as
investigações eu disse: pago do meu bolso as despesas de exumação. Ninguém quis
me ouvir.”
Três exames de DNA foram feitos na época e dois deram
“inconclusivos”. O terceiro teste, com um dente de leite que a mãe de Evandro
guardara em sua casa bem antes do desaparecimento do filho, constatou apenas o
óbvio: que se tratava de um dente do menino. Até aí, nada. Não se estabeleceu
nenhum vínculo entre esse dente de leite e o corpo. ISTOÉ revela o depoimento
prestado à Justiça pelo professor de criminalística e perito criminal Arthur
Conrado Drischel, que examinou local e cadáver: “O corpo não condizia com uma
criança de 6 anos de idade, que no caso também não poderia condizer com a
vítima Evandro Ramos que tinha 6 anos de idade (…) e todos os outros dados
também não condiziam com a descrição de Evandro.” Mais: os peritos deixaram
registrado o “desconhecimento da identidade da vítima”.
Até os dias atuais a história que mais
resiste ao desgaste do tempo naquela pequena cidade paranaense é o caso das
“Bruxas de Guaratuba”.
E agora que foi comprovado as torturas para conferem oque não fizeram, como fica
ResponderExcluirA meu ver cabe a revisão criminal e a indenização cível contra o Estado do Paraná.
ExcluirSera que vão fazer uma reportagem com as provas agora ?
ResponderExcluirA GloboPlay lançou uma série com nove episódios intitulada "O CASO EVANDRO", com base no podcast do Projeto Humanos que é bem completo:
Excluirhttps://www.projetohumanos.com.br/temporada/o-caso-evandro/
Não foram 3 exames de DNA, e sim 3 laudos do mesmo (único) exame!
ResponderExcluirSim, mas um resultado de cerca 97%, que jamais seria suficiente como prova pelos padrões científicos atuais.
ExcluirO teste foi feito com dente, fêmur e bloco histológico contendo um pedaço do músculo.
ResponderExcluirO problema com os testes foi a quebra da Cadeia de Custódia, ou seja, não foi acompanhada a coleta por testemunhas e pelos advogados eventualmente interessaados. Além disso, o percentual do resultado jamais seria aceito como conclusivo nos padrões atuais.
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